a) Posso ser apenas um padrinho financeiro, isto é, apenas contribuir materialmente para o desenvolvimento das crianças e adolescentes acolhidos em instituições?
Sim, o padrinho ou madrinha poderá apenas contribuir financeiramente para as necessidades de crianças e adolescentes e, nesse caso, não há necessidade de passar pela preparação (oficinas e entrevistas). Cada instituição de acolhimento conveniada irá repassar a lista das necessidades de cada criança/adolescente para o projeto e a Coordenação e a Equipe Técnica irão definir os casos prioritários de financiamento (cursos profissionalizantes, cursos de idiomas, música, esportes, culturais em geral, tratamentos médicos, psicológicos e dentários).
É possível que seja feito um agendamento automático para pagamento mensal, a depender de cada instituição financeira (sem taxas). Assim, os interessados em contribuir financeiramente deverão encaminhar um e-mail para a equipe do projeto, indicando sua instituição financeira para que sejam orientados devidamente.
b) Não é prejudicial à criança ou ao adolescente conhecer uma família saudável ou um ambiente mais abastado e depois retornar para a realidade da instituição?
Primeiramente, é importante registrar que o apadrinhamento afetivo já existe há 15 anos no Brasil e que essa prática passou a ser regulamentada pelo CONANDA (órgão máximo da Infância e da Juventude) em 2006, após serem constatados os seus grandes benefícios.
Ademais, é de se ressaltar que as crianças e os adolescentes participantes do programa são preparados para serem apadrinhados. É deixado bem claro que o apadrinhamento ocorre em determinados períodos (uma tarde, fins de semana, feriados) e que o apadrinhado sempre irá retornar à instituição. Considerando que os apadrinhados, via de regra, já contam com mais de 07 anos de idade, a compreensão fica facilitada.
No mais, diversos juristas, psicólogos e assistentes sociais que já desenvolveram programas semelhantes e que escrevem sobre o tema são contundentes em afirmar que é extremamente prejudicial para uma criança ou um adolescente institucionalizado crescer enclausurado num abrigo ou numa casa lar, sem contato com referências saudáveis de família ou mesmo com momentos de lazer, afeto e educação na comunidade.
Há uma comparação feita por alguns profissionais da área, que consta em doutrina pertinente: quando vamos a um lugar que gostamos muito (um resort, uma praia gostosa ou mesmo uma cidade bonita), sabemos que vamos passear naquele local, conhecer pessoas novas, abrir novos horizontes, evoluir como pessoa e retornar determinado dia.
E não é porque iremos retornar que esse tempo não foi importante e produtivo para nós. E exatamente esse é o paralelo feito com os projetos de apadrinhamento, em que uma criança ou adolescente exerce seus direitos fundamentais e cresce muito quando se relaciona com uma família ou quando sai para passear com um padrinho. Eventualmente, se ela um dia tiver a sua família, terá uma referência saudável para exercer sua paternidade/maternidade de maneira adequada.
Muitos feedbacks positivos de padrinhos, instituições e da sociedade foram colhidos em diversas experiências feitas no Brasil. Muitos apadrinhados mudam seu comportamento significativamente na escola, aprendem novos valores e passam a ter mais oportunidades de profissionalização. Os padrinhos, por sua vez, têm experiências incríveis a cada dia e crescem muito como seres humanos em virtude das experiências vividas.
c) E se depois de algum tempo eu precisar abandonar a prática? Me preocupo com o rompimento do vínculo com a criança ou o adolescente.
Todos os contatos com os apadrinhados iniciarão de forma bem gradativa. No início, o padrinho frequentará a instituição e participará de atividades e passeios apenas com grupos. Caso o padrinho verifique já no início que não se adaptará à prática, ele poderá informar seus receios para a equipe do projeto, que irá orientá-lo da melhor forma.
Mesmo se o padrinho iniciar a aproximação com determinada criança ou adolescente, ele passará por um estágio de aproximação, que servirá para que seja verificado se realmente as partes irão se adaptar.
Após o início do apadrinhamento de uma criança ou adolescente específico (caso o padrinho tenha interesse nessa modalidade), o objetivo é que o vínculo seja o mais duradouro possível. Todavia, é sabido que diversas situações podem surgir, que façam com que o padrinho ou a madrinha tenham de abandonar a prática e, nesses casos, esse rompimento será acompanhado de perto pela equipe do projeto, para que ele ocorra da forma mais adequada para todas as partes envolvidas.
O Dr. Sérgio Kreuz, juiz da Vara da Infância e da Juventude de Cascavel-PR, referência na área, transmite um ensinamento importante sobre o tema: ao longo de toda nossa vida sempre construímos e rompemos vínculos, desde criança, quando mudamos de escola, quando um irmão nosso sai de casa, quando deixamos o colégio para irmos a uma faculdade, quando casamos e saímos de casa ou quando mudamos de emprego. Em outras palavras, muitas vezes ao longo de nossa vida precisamos deixar de conviver com algumas pessoas queridas.
E as crianças e os adolescentes, conforme explicado acima, são preparados para a prática e já estão cientes de que isso efetivamente pode ocorrer no apadrinhamento, como em várias outras situações ao longo da vida. É claro que, conforme exposto, sempre será buscado pela Equipe Técnica do programa o vínculo mais duradouro possível, para que o apadrinhado possa crescer e se desenvolver significativamente.
d) Existe uma frequência mínima para ter contato com o apadrinhado? Qual a frequência ideal?
Não existe frequência mínima a ser observada no presente projeto. Cada modalidade de apadrinhamento guarda suas características e cada padrinho ou madrinha irá se amoldar à determinada frequência/modalidade de apadrinhamento.
Todavia, a prática mais efetiva será aquela em que a criança terá uma convivência semanal com o padrinho e sua família.
e) Posso escolher a criança ou adolescente que vou apadrinhar? Preciso apadrinhar sempre uma criança ou adolescente específico ou posso apadrinhar grupos?
Antes do início de todo apadrinhamento, serão colhidas as características e preferências de cada padrinho/madrinha (sexo, idade, perfil, local de residência do padrinho) e serão analisadas as características das crianças e adolescentes disponíveis ao apadrinhamento.
Os primeiros contatos de cada padrinho/madrinha serão sempre com pequenos grupos e em atividades rotineiras da instituição, para que ele(a) possa perceber se realmente se adaptará à rotina daquela entidade e ao que pode surgir na prática.
Após um período de convivência com grupos, o padrinho ou a madrinha poderá indicar uma criança ou adolescente (dentre aquelas aptas ao apadrinhamento) para apadrinhar e as equipes do projeto e da instituição avaliarão a viabilidade da aproximação com aquela criança ou adolescente.
Caso o padrinho ou madrinha tenha intenção de continuar fazendo só passeios com grupos, esta modalidade também será permitida. Ainda, será possível que grupos de padrinhos façam passeios com grupos de crianças.
Evidentemente, caso um padrinho não queira indicar nenhum dos possíveis afilhados, a equipe do projeto irá direcioná-lo para uma criança ou adolescente específico.
f) Preciso sempre levar o apadrinhado pra casa?
Não há necessidade de se levar o apadrinhado para a convivência familiar, pois o padrinho poderá, a depender de cada caso, fazer atividades sempre com grupos de uma instituição (passeios, outras atividades).
Em determinados casos, a equipe do projeto também irá indicar que não será adequado levar a criança/adolescente para a convivência com sua família, em virtude de seu atual momento, de suas perspectivas futuras ou mesmo em virtude das características dos próprios possíveis apadrinhados. Tudo isso será acompanhado pela Equipe Técnica e pela Coordenação.
E, em qualquer hipótese, os contatos serão gradativos. Nenhum padrinho irá levar o apadrinhado logo nos primeiros encontros para conviver com sua família.
g) E quanto ao acompanhamento da prática, se surgir alguma questão que eu não saiba lidar?
Cada criança ou adolescente terá suas peculiaridades e, justamente por isso, o devido acompanhamento pela instituição e pela Equipe Técnica do projeto se faz tão necessário, especialmente no início do processo.
Todas as questões cotidianas, relacionadas a dúvidas quanto a eventuais medicamentos, tarefas de casa ou questões de comportamento da criança ou do adolescente poderão ser tratadas diretamente com a instituição de acolhimento.
Caso haja qualquer dúvida mais recorrente ou mesmo caso o padrinho entenda interessante debater determinado tema com a Equipe Técnica ou com a Coordenação do projeto ele poderá mandar um e-mail, telefonar ou até, em casos mais graves, agendar um encontro com a Equipe Técnica/Coordenação para esclarecer suas dúvidas.